Caro professor, a série “101 Canções que tocaram o Brasil”, dirigida por Roberto Oliveira e com roteiro assinado por Nelson Motta – autor do livro homônimo – e Pedro Motta Gueiros, tem como objetivo narrar a história do Brasil a partir da música popular. Desta forma, canções, artistas e conjunturas culturais e históricas se entrelaçam ao longo de 13 programas. 

Neste plano de aula, preparamos algumas possibilidades de uso do episódio “Cantando a esperança” para contribuir em sua formação continuada enquanto educador, cumprindo os requisitos estabelecidos na Base Nacional Comum para a Formação Continuada de Professores da Educação Básica (Resolução n. 1 do Conselho Nacional de Educação, de 27 de outubro de 2020).

Em “Cantando a esperança”, você conhecerá um pouco mais sobre oito canções da música popular brasileira, lançadas ente 1963 e 1966. São elas:

• Mais que nada, de Jorge Bem Jor (1963);


• O sol nascerá, de Cartola e Elton Medeiros (1964);


• Primavera, de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes (1964);


• Trem das onze, de Adoniram Barbosa (1964);


• Mascarada, de Zé Kéti e Elton Medeiros (1965);


• Preciso aprender a ser só, de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle (1965);


• Samba de verão, de Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle (1965);


• Canto de Ossanha, de Baden Powell e Vinícius de Moraes (1966).

Como o próprio Nelson Motta afirma no documentário, não são as canções mais bonitas ou as mais importantes, mas são representantes da diversidade cultural, étnica e social desse gênero que chamamos de “música popular”.

De forma a valorizar essa diversidade, propomos a você explorar certas temáticas trazidas no episódio, como, por exemplo:

1. a contribuição da cultura, da história e da religiosidade africanas e afro-brasileiras na formação identitária brasileira. O primeiro questionamento que fazemos a você é: qual o pertencimento étnico dos cantores e compositores? Como docentes, como podemos positivar a imagem de pessoas negras? Depois, gostaríamos que você refletisse sobre a influência da cultura, da história e da religiosidade africanas e afro-brasileiras presentes nas canções. Você pode partir dos exemplos mais evidentes, que fazem referência ao candomblé, até os mais sutis, com a presença de determinados instrumentos musicais, passado pela análise dos gêneros, como o samba.

2. falemos sobre as temáticas exploradas pelas canções, primeiramente do universo do samba e do carnaval. Ambos os temas foram explorados pela historiografia e permitem que compreendamos uma série de dinâmicas da sociedade brasileira ao longo do século XX: os estereótipos, o racismo e o branqueamento, as perseguições policiais de cunho moral, a censura etc.

3. seguindo com as temáticas que podem ser exploradas a partir das canções, apresentamos para você, professor, a conjuntura de composição e lançamento das músicas na primeira metade dos anos 60. Esse período foi marcado por um clima de instabilidade proveniente de fatores externos, como a Guerra Fria, e internos, como a intensa polarização política e a crise econômica e social. Em 1961, uma intervenção militar tentou impedir a posse de João Goulart como presidente da República após a renúncia de Jânio Quadros. Essa situação foi parcialmente resolvida com a mudança do regime político, de presidencialismo para parlamentarismo. Contudo, os ânimos dos que queriam o trabalhismo fora do jogo político não se arrefeceram, e, nos anos seguintes, formaram-se em todo o Brasil diversas “ilhas de conspiração”, que enfraqueceram o governo João Goulart. O golpe civil-militar de 1964 tinha como objetivo a deposição do presidente, mas não havia consenso sobre o que ocorreria após a intervenção. Na verdade, diversos projetos estavam em disputa, justamente pela heterogeneidade dos setores golpistas. Você consegue identificar esses episódios repercutindo nas canções? O documentário nos informa que “O sol nascerá”, de Cartola e Elton Medeiros, foi utilizada como uma metáfora política contra a ditadura. Que outros indícios podemos encontrar nas músicas?

4. por fim, abordemos dois assuntos bastante importantes presentes nas canções do episódio: primeiramente, um tópico recorrente: o amor impossível, seja entre uma pessoa em situação de rua e uma garota rica, seja entre dois foliões em um carnaval; ou então o romantismo e a melancolia de um amor perdido. E, depois, dos erros intencionais em “Trem das onze”, que suscitam uma discussão sobre a comunicação e a língua culta, a formação da língua portuguesa (com elementos provenientes das línguas africanas, indígenas e europeias).

A partir das abordagens temáticas que apresentamos, sugerimos que você reflita sobre os seguintes pontos, a fim de desenvolver certas competências e habilidades no âmbito da formação continuada.

• De que forma os estudantes aprendem?


• Será que o aprendizado ocorre somente nos espaços formais de ensino ou também por meio de redes sociais?


• Apenas por meio dos livros didáticos ou também da música?


• Como o uso de canções pode contribuir para o aprendizado de aspectos da cultura e da História brasileiras?


• Que metodologias você está utilizando para o processo de aprendizagem? Gostaríamos de lhe estimular a debater com seus colegas propostas interdisciplinares para a abordagem da cultura e da História brasileiras.


• Que tal elaborar, juntos, oficinas para que os alunos conheçam a história dos instrumentos musicais e reconheçam seus sons? Esta é uma excelente oportunidade para positivar elementos da cultura africana e afro-brasileira.


• O que seus alunos têm ouvido? Conheça o repertório musical de seus alunos. Crie estratégias para a apresentação das canções citadas no documentário, em que você, professor, apresenta uma música, e os alunos escolhem outra para apresentar.

Essa reflexão mobiliza uma série de competências presentes na Base Nacional Comum para a Formação Continuada de Professores da Educação Básica, tais como:

• Pesquisar, investigar, refletir, realizar análise crítica, usar a criatividade e buscar soluções tecnológicas para selecionar, organizar e planejar práticas pedagógicas desafiadoras, coerentes e significativas.


• Valorizar e incentivar as diversas manifestações artísticas e culturais, tanto locais quanto mundiais, e a participação em práticas diversificadas da produção artístico-cultural para que o estudante possa ampliar seu repertório cultural.


• Utilizar diferentes linguagens - verbal, corporal, visual, sonora e digital - para se expressar e possibilitar que o estudante amplie seu modelo de expressão ao partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos, produzindo sentidos que levem ao entendimento mútuo.

Para complementar sua formação, recomendamos as seguintes leituras: 

Napolitano, Marcos. (2019). Cartografias transatlânticas da música popular nas Américas. Revista USP, (123), 45-58. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i123p45-58

Bezerra Filho, Feliciano José. (2019). O samba, a bossa nova e a moderna canção brasileira. LETRAS EM REVISTA, 9(2). https://ojs.uespi.br/index.php/ler/article/view/190

Duque, Luís Guilherme Ritta. (2017) Na trilha sonora da História: a canção brasileira como recurso didático-pedagógico na sala de aula. Revista História Hoje, 6(11). https://doi.org/10.20949/rhhj.v6i11.322