Relato de atividade em sala de aula

O AUDIOVISUAL COMO FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO EM SALA DE AULA

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Heroína sem Estátua
01/11/2024
Sociologia
Responsabilidade e cidadania
Ensino Médio
30
Lucas Alves Salino





O CIEP 449, Governador Leonel de Moura Brisola, - Intercultural Brasil-França, em seu cotidiano, busca realizar experiências pautadas pela interculturalidade compreendida pelo diálogo crítico entre distintas linguagens epistemológicas, como o emprego do cinema nas aulas de Fundamentos da Cultura, disciplina do Novo Ensino Médio, do segundo ano do ensino médio. A partir de 2023, Fundamentos da Cultura implementa a ementa aprovada pelo Colegiado do CIEP 449, abrangendo as seguintes temáticas: cultura visual, cultura popular, interculturalidade, socialização escolar, desigualdades sociais, globalização e neoliberalismo, indústria cultural, religião e estado, intolerância e diversidade religiosa. É importante salientar que essas temáticas atravessam a vida dos estudantes na escola e fora dela, e por isso, o processo de ensino e aprendizagem precisa levar em conta a comunicação entre os saberes acadêmicos, escolares e dos alunos como sujeitos, aplicando o conceito de transposição ou mediação didática, ou seja: o processo de comunicação dos conhecimentos científicos produzido na universidade em saberes escolares no âmbito da sala de aula no ensino médio demanda a seleção de chaves de leitura e de centros de interesse que dialoguem com as motivações e as características diversas da juventude. Considerando a necessidade de adotar de forma criativa e crítica os conteúdos de Fundamentos da Cultura, em 2024, o docente responsável, em parceria com a equipe do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense, desenvolve o projeto intitulado “Ensinando e aprendendo Fundamentos da Cultura através das lentes do Cinema e da Sociologia”, do PROLICEN. No contexto de desenvolvimento desse projeto descrito, apresentamos o documentário “Heroínas sem Estátua”, em 30 de setembro de 2024, para discussão na turma 2003 de Fundamentos da Cultura, em torno da unidade Desigualdades Sociais, em específico, acerca da mulher como sujeito na dimensão cultural. A escolha desse documentário diz respeito à articulação com os objetivos da unidade temática indicada, exemplificando e aprofundando os conceitos de direitos humanos e de relações de poder no tocante à abordagem de gênero, à luz de depoimentos de mulheres brasileiras representantes da luta pela superação do patriarcado na sociedade brasileira, construindo sua identidade na história.


A discussão do documentário “Heroínas sem Estátua” permitiu refletir sobre a identidade da mulher na história brasileira, a partir das falas de Marina da Silva, Marcia Tiburi, Olgaria Matos
e de outros relatos, como de Carolina de Jesus. É importante esclarecer que essa atividade ocorreu depois da apresentação do blockbuster Barbie no projeto do PROLICEN, em aulas
anteriores no mês de setembro. A atividade de exibição de “Heroínas sem Estátua” envolveu quatro tempos de aula de cinquenta minutos, sendo que os dois primeiros tempos foram para ver o documentário, e, em seguida, comentar de forma mais livre sobre as falas mais significativas. Neste sentido, a interatividade dos discentes revelou uma assimilação dos conceitos apresentados a partir do blockbuster Barbie, além de sinalizações acerca das distinções entre a produção de um documentário e um filme de Hollywood. Nos dois últimos tempos de aula, o docente da disciplina solicitou a elaboração do relato a respeito do impacto do documentário na percepção deles. Segundo a visão de uma equipe da turma 2003, “no documentário podemos ver a pauta da rebeldia, no contexto de manifestação, sinônimo de revolução e de feminismo. No decorrer do documentário, observamos que a produção é feminina, já que aborda temas antimachistas, feministas e ascensão da mulher na nossa sociedade”. Outra parte desse relato tece reflexões com a discussão desenhada com o filme Barbie, como se verifica a continuação: “Conseguirmos fazer a comparação do documentário com o filme Barbie, também apresentado em aula, já que Barbie também aborda argumentos sobre o patriarcado que sustenta a nossa sociedade preconceituosa.” Outro grupo registrou que: “no documentário Heroína sem estátua, podemos observar temas como a desigualdade da mulher na sociedade e a forma de como os ‘rebeldes’ são vistos como vilões. Quando falamos de desigualdade de gênero, muitas vezes entramos em assuntos como a disparidade salarial, desrespeito dentro da política e até a polêmica do aborto. Similar ao documentário (nesse tópico), o filme Barbie constrói diversas cenas em que a protagonista Barbie percebe que o mundo real – diferentemente da Barbieland – é comandado pelo patriarcado e as mulheres possuem a figura de objeto na sociedade”. 


O emprego do cinema em sala de aula na disciplina Fundamentos da Cultura cumpriu de modo fértil a proposta de aprofundar os conceitos nucleares, além de oferecer uma rica possibilidade de sublinhar o cinema como uma arte que retrata e espelha os dilemas e as complexidades das relações sociais. Os depoimentos dos discentes da turma 2003 de Fundamentos da Cultura enfatizam uma avaliação positiva dessa atividade, estabelecendo comparações com o projeto do PROLICEN. Dessa forma, o audiovisual em sala de aula configura-se um recurso estratégico para a mediação didática, como uma prática epistemológica no sentido de produzir conhecimentos com os discentes em sua condição de sujeito histórico. Ademais, as aulas expositivas constituem dispositivos que fazem os discentes meros receptáculos de informações, enquanto o cinema, articulando imagens e palavras em movimento, estimula a capacidade analítica e dialógica dos discentes. Para 2025, espera-se dar continuidade ao projeto de cinema em sala de aula a partir da pesquisa intitulada “Interlocuções interculturais entre Cinema e Sociologia Escolar: uma proposta de ação reflexiva em Educação em Direitos Humanos no CIEP 449”.