diálogos em português Anacleta! Vamos com as Diretas! Rio de Janeiro, 1984 Agora todo mundo com o Chacrinha aí! Diretas já! Diretas já! Diretas já! Diretas já! Diretas já! DIRETAS NA CABEÇA Alô 'tenção! Alô 'tenção! Teresinha! QUEREMOS ELEIÇÕES DIRETAS JÁ! Tá fraco, Teresinha! Muito obrigado! Diretas para o Brasil inteiro! Muito obrigado! Muito obrigado! Este mar de gente QUER VOTAR PRA PRESIDENTE Em abril de 84, a ditadura militar completou 20 anos. Eu tinha 16. O AI5 também. Quase uma condenação isso. Uma geração interia condenada ao silêncio, à ignorância. Na escola não se falava de política, era proibido. Em casa também não. Era melhor não falar. Mas, pra gente sempre tinha sido assim. Liberdade era coisa que se aprendia a manter nas entrelinhas. No máximo escrito atrás de uma porta de banheiro. Quando vi pela TV a multidão no comício das diretas… me empolguei como qualquer adolescente se empolga quando vê agrupamento. Um milhão de pessoas, imperdível. Eu, os irmãos, os amigos, pegamos o metrô para a Candelária. Com certeza esses aí que levantaram as mãos nunca votaram para presidente, tô certo ou tô errado? Certo! Quem nunca votou pra presidente levanta a mão! Saindo do trem, comecei a ouvir os autofalantes… ecoando o discurso do palanque dentro da estação. Quando emergi do buraco do metrô… um mar de gente tomava a Presidente Vargas e vibrava de um jeito… que eu só tinha visto em jogo de futebol no Maracanã. Não são só os jovens que estão conosco. Aqui está um senhor de 90 anos, Sobral Pinto! Quero falar aos milhões de brasileiros… Nos autofalantes, a voz que eu ouvia era a voz do meu avô. que querem reconquistar a sua cidadania através do voto. Quero falar à nação brasileira através desta multidão de um milhão de conterrâneos meus… nós queremos que se restaure no Brasil… o preceito do artigo 1° do parágrafo 1° da Constituição federal. Todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido. Foi nesse momento que comecei a me dar conta da dimensão de Sobral Pinto. Esta é a minha mensagem. Este é o meu desejo. Este é o meu propósito. SOBRAL o homem que não tinha preço Dr. Sobral como é que estão os direitos humanos hoje no Brasil? Bom, estão melhores. Não são ainda completamente respeitados… porque enquanto houver ditadura militar há perigo para os direito humanos. Ainda há? Ainda? É evidente. Colocar um general na presidência da república… estamos ameaçados de uma eleição indireta… com candidatos que positivamente não representam a opinião pública. e a eleição indireta está sendo mantida pela ditadura militar. O senhor tem esperança nas Diretas, Dr. Sobral? É claro que sim. Se não tivesse esperança não estaria lutando por elas como estou lutando. Mais de 20 anos se passaram… e se a gente olhasse em volta, já não via mais nenhum vestígio de Sobral. As pessoas se atropelando na rua… Um monte de manchetes absurdas todo dia no jornal. E apesar de tudo, a sensação era de dormência. Pior ainda eu acho que os tempos de censura. Era um tempo de cinismo. E foi me faltando aquela figura do homem sozinho… de chapéu e terno preto, sempre na contramão das coisas tortas. Eu sabia que continuava não sabendo de nada, como a maioria das pessoas. Foi então que resolvi procurar por Sobral. Brasília, 1999 Em 1999, eu tava fazendo uma pesquisa para uma tese de mestrado. Fernando A. Fernandes - advogado E a pesquisa era sobre o julgamento de presos políticos durante a República. Então, eu fui ao Superior Tribunal Militar em busca dos autos que lá estão arquivados. Primeira coisa que eu fiz, eu procurei imediatamente nessas pautas… uma sustentação do Sobral Pinto. Quando eu comecei a acessá-lo, eu percebi que… era a primeira vez que alguém acessava. Eu percebi que aquilo não ia se operar por muito tempo. Diante disso, eu resolvi preservar o material. Fiz uma cópia da fita que tinha o Sobral Pinto. Essa fita eu escondi no Tribunal atrás da própria fenda que existe… do vaso sanitário, coloquei ali aquela fita. E quando efetivamente escutaram a sustentação do Sobral Pinto… denunciando tortura… Meu material de pesquisa todo que estava à mostra foi apreendido… a pasta foi arrebentada pra reter as fitas que ainda estavam lá. Quando eu saí da sala depois de ser revistado… não mais prestaram atenção em mim. Então, eu fui ao banheiro, peguei a fita que estava lá… e desci com ela e fui embora, vim pro Rio de Janeiro imediatamente. Fui direto para o aeroporto e vim para o Rio de Janeiro. As fitas, as que sobreviveram à busca e apreensão… estão num arquivo aqui dentro do escritório. Um arquivo protegido. A sensação emocional quando eu descobri esse material… quando o gravador começou a tocar… a sustentação do Sobral é algo indescritível. Com a palavra o Dr. Sobral Pinto Superior Tribunal Militar 1976 Em relação a Osvaldo Pacheco, não há prova nenhuma… nenhuma prova colhida em juízo. Condenar alguém com base apenas nessa confissão arrancada... E há prova disso, esse homem apareceu em juízo ainda cheio de equimoses. Apareceu em juízo com feridas impressionantes. Então, quem é que fez essas equimoses? Quem praticou essas torturas… neste homem preso e incomunicável? Não é possível que Vossas Excelências possam aceitar essa afirmação… numa confissão arrancada nessas condições como sendo prova. Não Sr. ?, não é possível que isso continue a perdurar neste país. Sobral significou durante a ditadura… Eny Moreira, advogada a salvação de algumas vidas. Ele representava para o Brasil na época… Rogério Duarte, ex-preso político a ideia de ser, digamos assim, uma garantia da existência da lei. Uma garantia da existência do direito. Ele era uma própria encarnação do direito. Na Índia tem uma figura chamada Dharmaraj, que é o deus da justiça… e ele é, digamos assim, quase uma manifestação dessa divindade da justiça. Além Paraíba, MG 1903 Tem um episódio muito interessante da vida do papai… Gilda Sobral Pinto, filha de Sobral Pinto que aconteceu em Além Paraíba, onde ele morava. Uma desavença entre dois jovens… e que um matou o outro, mas matou em legítima defesa. Meu pai tava no jardim, junto com a minha avó… quando ele viu esse jovem ser arrastado por policiais e… apanhando e papai ficou indignado. Começou a gritar com os policiais que parassem de bater… e ele diz que nesse dia, né, ele foi mordido pelo desejo de ser um defensor da justiça. Ele agiu a vida toda dessa maneira. Guilherme Fiuza, neto de Sobral Pinto Um sujeito que é um jato de convicção. Um jato de fidelidade à sua própria consciência. Isso é um negócio que é uma emanação de poder. Dr. Sobral Pinto, o que o senhor acha desse depoimento que foi lido aqui hoje? Acho que esse depoimento deve ser publicado na íntegra… por toda a imprensa brasileira. E não invoquem que não tem espaço… pois quando se trata de um crime dessa gravidade… deve haver espaço em qualquer jornal que se preze. O senhor tem esperança de que os responsáveis pela tortura venham a ser punidos? Tenho esperança, eu confio na justiça, confio na vitória final do bem. Muito obrigado. Vai sair na íntegra? Eu espero. Será? Tchau, obrigado. O que o senhor poderia nos dizer sobre a figura do Dr. Sobral Pinto? O Dr. Sobral Pinto? Luis Carlos Prestes, líder comunista É um grande lutador pela liberdade em geral… e respeita a opinião alheia. É de opinião de que todo cidadão tem direito de defender suas ideias e expô-las. E é de uma grande persistência no seu cargo de defensor. Salvei minha filha que estava com um ano de idade… junto com a mãe nas prisões de Berlim… porque necessitava de um certificado de paternidade… E a chefe de gabinete, uma Srta. Odete… gabinete do Ministro Macedo Soares… resistiu até o último, mas ele com sua persistência… conseguiu levar o tabelião até a prisão… para que eu pudesse assinar esse certificado. Devo a ele por ter salvado minha filha do nazismo. Eu nasci numa prisão em Berlim… para onde minha mãe tinha sido deportada, né… pelo governo Getúlio Vargas em 36. Anita Leocádia Prestes, filha de Prestes e Olga Benário Ela foi deportada em 36 e eu nasci logo depois em… novembro de 36 nessa prisão de mulheres em Berlim. E havia uma grande dificuldade por parte da Gestapo nazista… que não reconhecia minha avó como parente… alegando isso, que não havia um documento de casamento. Minha mãe inclusive foi avisada pela Gestapo… que quando eu completasse um ano e fosse desmamada… eu seria enviada para um asilo. Na Alemanha nazista as crianças de prisioneiros eram mandadas para um asilo… no asilo perdiam o nome e viravam um número. Então, pode imaginar a preocupação da minha mãe… da família toda, né? E o papel do Dr. Sorbal então foi muito importante… porque ele conseguiu esse documento. Foi uma vitória grande embora pela metade, né… porque o objetivo era também libertar a minha mãe e isso não se conseguiu. Ela foi assassinada numa câmara de gás, como se sabe… num campo de concentração da Alemanha. Quando houve a anistia no Brasil em 45 é que eu… a minha vó já tinha falecido, e eu vim para o Brasil pela primeira vez… junto com a minha tia Ligia. Era o Santos Dumont lotado de gente. Eram umas 200 mil pessoas. os cordões de isolamento que o partido tinha organizado se romperam… Foi uma loucura, eu fiquei até assustada porque não estava acostumada. Todo mundo queria me pegar, queria beijar… queria abraçar, havia assim uma comoção popular muito grande. Foi assim muito emocionante realmente. Inclusive uma foto mostra como ele está emocionado. E uma das primeira visitas que meu pai fez questão de fazer… foi me levar na casa do Dr. Sobral Pinto, conhecer o Dr. Sobral. Ele recebeu com muita simpatia, ele, a Dona Maria José… O Dr. Sobral Pinto inclusive, sempre que encontrava comigo… dizia que era o meu segundo pai, porque ele tinha contribuído… assim decisivamente, né, pra me salvar. Realmente aí das garras do nazismo, essa é que é a expressão. Dr. Sobral, o que o senhor gostaria de ganhar de presente nestes 90 anos? Gostaria de ganhar a amizade dos meus concidadãos… Isso o senhor já tem. Não sei, não sei. Porque a única coisa que eu desejo realmente… é que dê a todos a noção de uma pessoa tolerante… uma pessoa enérgica, intransigente, mas compreensiva. E uma pessoa que adotou na vida este lema do cristianismo. "Odiar o pecado e amar o pecador". Na minha vida, eu tenho procurado executar esse ideal. E a prova evidente de que eu sou sincero nisso está… em que eu me expus durante oito anos perante a ditadura caudilhesca do Estado Novo… para restaurar a dignidade de dois homens que estavam sendo tratados como animais. E que eram Luis Carlos Prestes e Harry Berger. Eu me expus a prisões, a incompreensões, a perseguições… para restituir a esses homens a dignidade pessoal que o governo estava negando. E consegui. Nesse ponto, eu me realizei. Eu consegui obter para os dois um tratamento humano… que eles não tinham até a minha intervenção. Correio da Manhã Preso, afinal, o "Cavalleiro da Esperança"! Logo depois que eu conheci o Sobral… fiquei muito bem impressionado com ele. Modesto da Silveira, advogado Sabe o que eu fiz? Eu fui ver o processo que deu a ele notoriedade internacional. Era o processo do Prestes e Harry Berger. O advogado Magarino Torres… Helio Fernandes, jornalista grande figura que depois foi juiz… chamou o Sobral Pinto na OAB regional aqui e… e disse: "A OAB designou o senhor para defender o Luis Carlos Prestes". O Sobral não discutiu nem nada… era uma determinação, uma obrigação e foi. Agora, o Luis Carlos Prestes não aceitou de maneira alguma ser defendido pelo Sobral Pinto. Depois que meu pai foi preso, em março de 36… ele nunca quis nomear um advogado. Embora tivesse esse direito… porque ele sempre defendeu a ideia de que ele mesmo iria se defender. Mas, enfim, devido à insistência do Dr. Sobral Pinto… que foi nomeado advogado ex-ofício… ele começou a ter algum contato com o Dr. Sobral Pinto… ele acabou concordando em aceitar essa defesa. O Dr. Sobral teve vários choques aí com as autoridades… pra conseguir realmente… Tinha períodos grandes em que ele não tinha permissão pra visitar… o preso, o que era um absurdo porque ele era advogado e devia ter acesso ao preso... Mas não permitiam. Enfim, ele era um combatente sem dúvida, o Dr. Sobral Pinto. O Canepa queria impedir que eu me encontrasse com o Prestes. Ele foi posto na casa de correção com esse objetivo... pra impedir minhas visitas ao Prestes. Às quintas-feiras era o dia em que eu encontrava o Prestes. Então, na quinta-feira seguinte eu levei um livro. Como ele não me recebeu, eu fiz da sala de espera dele a sala de leitura... e fiquei ate às 5 horas da tarde. Acontece que ele resolveu fazer um conserto no gabinete dele. Então transferiu o gabinete para a sala de espera. Na quintas-feira seguinte eu entrei... Quando eu entrei, dei com ele: "Quem autorizou o senhor a entrar?" "Não, aqui é a sala de espera..." Eu entrei porque suponha que era a sala de espera. Ele era um homem alto, forte, era tenente de cavalaria, um homem atlético. Ele juntou a mão pra me dar um soco. Eu abaixei e ele rodou. Quando ele rodou eu pulei nas costas dele, eu pulei no pescoço dele. Então ele me prendeu e resolveram então me dar... lavrar o flagrante de desacato, de desobediência e de lesões corporais. Quando Prestes foi preso, ele foi preso lá junto com o amigo dele... Um alemão chamado Harry Berger. O Harry Berger estava em situação ainda pior, não era brasileiro, não era capitão. Enfiaram ele no socavão de uma escada por onde subiam e desciam dezenas, centenas de soldados... Soldados não, policiais da polícia especial de Getúlio subiam e desciam. Tudo o que ele ouvia no mundo lá fora era o barulho das botas subindo e descendo. Tudo era aquela tortura permanente. E o Sobral quando constatou essa coisas, ele pedia... A situação dos dois, sobretudo a do Harry Berger era tal... Que era preciso se respeitar pelo menos a lei de proteção aos animais. E pediu ao juiz que aplique a lei de proteção aos animais. Porque eles são tratados pior do que qualquer animal maltratado. Você sabe quando ele teve a ideia, né? De fazer aquela petição. O que acontece é o seguinte, o Harry Berger tava apanhando muito... tava embaixo daquela escada. E ele já tinha feito várias petições pro juiz... denunciando estado terrível que se encontrava o Berger... e o juiz não tomava providência nenhuma. Então ele abriu o jornal e viu uma matéria de um... sujeito que tinha sido condenado por maltratar um cavalo. Em razão disso ele fez uma das mais lindas petições... senão a mais linda da história da advocacia. Que foi pedir que o Harry Berger fosse tratado pela lei de proteção aos animais. Quando o Sobral mandou pro Prestes lá dentro que recusava advogado, quando... Quando o Prestes recebeu a petição dele, aceitou receber, ele perguntou: "O Sr. fez esta petição?" "Fiz." "Esta assinatura é sua?" "É." "Então aceito o Sr. como meu advogado." A partir daí surgiu essa relação historica do Prestes, marxista convicto... lutando pela forma marxista de convivência humana... e o Sobral lutando por uma forma Cristã, católica de relações humanas. Viraram grandes amigos, embora de pensamentos diferenciados... na forma como fazer com que a busca da felicidade humana... pudesse um dia se realizar cada uma no seu caminho Uma das caracteristicas da ação do Dr. Sobral, os colegas dele hoje sabem disso... Zuenir Ventura, jornalista. era essa integridade ética, esse respeito à justiça e ao direito. Ele só aceitava a causa na qual ele estivesse absolutamente certo da justiça do seu cliente. Não era movido por remuneração, que dizer, recusava causas milionárias... chegou a fazer isso em alguns episódios. É verdade então que o senhor não cobra em muitos casos? Há muitos casos, muitos. E por quê? Houve época em que mais da metade da minha advocacia era gratuita. Como eu não sei cobrar, nunca soube cobrar e não sei. Então, para poder formar essa equipe que formei... muitos hoje foram pois embora... então eu estabeleci com ele o seguinte: Vocês me ajudam nas minhas causas quando eu pedir... e agora eu ajudo a você nas causas... vocês podem ter as causas que vocês quiserem... os clientes são seus, não são meus. Eu me obrigo a prestar a vocês a assistência que vocês precisarem de mim. Como ele não recebia honorários, ele e dona Maria moravam... Renata de Almeida Magalhães, neta... do advogado Dario de A. Magalhães. no final da rua Pereira da Silva, ladeirão em Laranjeiras E daí o vovô: "Mas tudo bem, logo que ele não quer honorários... vou então conseguir que o cliente pague um carro com motorista... para servir a casa." Sete filhos, um monte de gente, dona Maria sozinha... criando aquelas crianças, enfim, com aquele marido abnegado. Daí chegou o carro, sem o Sobral saber, na ladeira. Carro com motorista, era uma coisa vitalícia, para sempre, trocava de carro todo ano. Daí o Sobral mandou devolver o carro. Daí chegou a dona Maria e marcou uma hora com o vovô. Veio exatamente aqui nesta sala, com essa mesa, com essa cadeira "Dr. Dario, o Sr. fale com o Heráclito... porque se ele devolver esse carro, eu vou junto... porque daí é demais pra mim." E as poucas vezes que ele cobrava ele trazia o dinheiro pra casa… Casa de Sobral Pinto Depois que ele morreu, que nós fomos desfazer a biblioteca dele... a quantidade de dinheiro que a gente encontrava dentro dos livros... Ele não tinha, assim, era uma pessoa muito mão aberta. Agora, por conta disso era muito engraçado que... por exemplo, ele chegava muitas vezes na hora do jantar rindo. "O que que foi?" "Eu fui comprar um sapato, ai eu entrei na loja e experimentei o sapato, tal... Ai na hora que eu fui pagar que ai: O Sr. não é o Dr. Sobral Pinto?' O Sr. não vai pagar o sapato!' Então, ele com isso ele ganhava sapato de graça. O colégio da gente ele passava um ano sem pagar... porque não tinha dinheiro pra pagar. Mas ai imagina se a Dona Laura Jacobina, que era diretora do colégio... onde todos nós estudamos, se ia cobrar do papai. Não cobrava! Então um dia lá, quando também um dia que ele recebia uma causa... todo mundo ganhava dinheiro. Os companheiros de escritório, pagava todas a dívidas, etc e tal... pra depois continuar. E a mamãe era o contrário, a mamãe era uma pessoa super econômica... e era quem segurava a casa, porque ela tinha pensão do pai dela... e a pensão do irmão. Então quem fazia a feira muitas vezes era a mamãe e tudo mais. Porque o dinheiro dele não sabia onde é que tava, sabe? E às vezes: "Ó meu Deus, como é que vou pagar isto hoje? Ai a mamãe dizia: "Heráclito, cobra dos seus clientes!" Didier, funcionário do escritório de Sobral. Aqui ele passava, todos cumprimentavam, tanto o pessoal da loja de roupa... da papelaria, saiam até a porta pra cumprimentar. Isso todos os dias. Até pela simpatia dele, ele passava, ele parava, cumprimentava a todos. Alguns advogados passavam no caminho, falavam com ele... chamavam de excelência, onde ele repudiava: "Não sou excelência não, sou igual a vocês!" "Virou ator?" Ele é um também, ele é da época, esse rapaz, só que do outro lado... Tá falando sobre quem? Da época do Sobral Pinto. Ah, Sobral Pinto? Lembro, lembro! Ele era da barraquinha lá do outro lado. Era um grande jurista o Sobral Pinto né? Tá fazendo algum centenário que ele morreu? Quantos anos têm que o Sobral morreu? Tem 15 anos. Já tem 15 anos? O grande jurista Sobral Pinto! Ele era camelô lá naquele outro lado lá. Era. Ai passou pra cá. Era o homem que defendia o Luis Carlos Prestes, né? Isso! Na época do Getúlio, que o Getúlio vivia perseguindo comunistas. Muito bem! Você está muito bem informado! Era o cara que... Foi um dos maiores juristas do país... Até hoje não teve outro igual a ele. Eu o via passando aqui, eu era garoto. Desde garoto eu ficava sempre olhando aquele coroazinha passando Mas eu sabia que ele um grande brasileiro. Porque só tem democracia quando você tem direito... ou algumas pessoas que defendem os direitos. E Sobral Pinto era isso. Pena que ele não foi botafoguense! Ele era americano, né? E ele era louco por futebol, ele era América doente. Então todas as vezes que o América perdia, era porque o juiz roubou... era porque foi falta de sorte... Ele nunca admitia que o América tivesse jogado mal. Então ele sentava... a vitrola ficava aqui, to dizendo vitrola... porque era o que a gente chamava... Ficava bem aqui... Então ele sentava assim do lado, abaixava e botava o ouvido junto e ficava. Quando o América fazia qualquer coisa errada, ele: "Maçada! Não é possível! Eu não vou mais assistir!" E saia e ia embora lá pro escritório dele. E ai ninguém podia falar nada. Daqui a pouco ele voltava. Ai a mamãe dizia assim: "Amansou?" Era a hora que ele realmente se descontrolava, era com futebol. E nesse terreno ele era passional, ele não era justo. Eu acho que até reforça toda a dimensão dele de homem justo e virtuoso. Porque ele era de carne e osso, ele não era um andróide da justiça. É muito interessante como ele abandona todo senso de justiça... e vai pra pura paixão. Quer dizer, o América perdia porque o juiz tinha roubado. Então o jurista dizendo que o juiz roubou injustamente. Criticando o juiz de forma injusta, baseado em nada... não baseado na virtude, no direito, em valor nenhum. Baseado na paixão dele pelo América. Muito engraçado, um homem que passou a vida convencendo... os juizes porque tinha a verdade dentro de si, no futebol... ele simplesmente, digamos assim, entrava de carrinho do juiz... e não queria nem saber do senso de justiça e da verdade. Eu sempre gostei de cinema desde pequenininha e tal. E um dia me ligou a Lucy, disse: " Ai Renata, e a gente soube, a gente precisa de um lugar... dos anos quarenta... E a gente soube que o escritório do Dr. Sobral... é maravilhoso, incrível, que é só chegar lá, mas a gente não sabe... nem como contactar... Será que você pode fazer esse contato?" Eu disse: "Claro"! Então foi meu primeiro trabalho em cinema. Fui lá, liguei: "Dr. Sobral, aqui é Renata, neta de Dario, filha de Rafael". "Ah, minha querida!" Eu disse: "Não, porque eu to ajudando aqui num filme... e dai o filme Dona Flor... eles querem muito visitar seu escritório... e então eu queria saber se eles podem ligar, com quem eles falam". Ele disse: "minha filha, é aquele com a Sônia Braga?" Eu disse: "É, Dr. Sobral!" "Mas ela está na filmagem? Porque se ela estiver, claro que pode!" Então é uma coisa... Enfim, porque também é santo, mas também não é! Ainda mostra esse humor incrível, porque essa sabedoria... também vem acompanhada de muito humor, sem duvida nenhuma. E... Eu acho que ele tinha tudo isso na medida certa. Foi uma das pessoas mais importantes da história da República... sem dúvida nenhuma, porque ele participou de tudo e ele criou... o respeito pelas cartas dele... Todo mundo temia as cartas do Sobral. E ele escrevia várias por dia, por semana, mandava pra todo mundo. Mandou pra mim depois de me defender. Há inumerosas cartas minhas em que eu digo: "Não me interessa que seja ministro, que seja chefe de policia... que seja comandante. Não, eu quero que sejam pessoas honradas... pessoas que cumpram seu dever, que cumpram a lei... que sejam justas, que sejam dignas. É isso que eu quero. Porque o que eu quero é que o bem comum do país seja realmente... promovido e defendido. O resto não me interessa!" Eu fui o unico preso antes do Golpe de 64. Eu publiquei uma circular secreta do ministro da guerra... Jair Dantas Ribeiro que tinha num carimbo no envelope... o carimbo: "sigiloso e confidencial". E o Dr. Sobral ele fez uma discurso brilhantíssimo... tendo como base a liberdade de imprensa... não a liberdade de Hélio Fernandes. Agora, uma semana depois, recebi uma carta do Dr. Sobral Pinto... dizendo: "Hélio, eu defendi você do julgamento com toda convicção. Não há nenhuma possibilidade de eu estar errado. Agora, eu quero lembrar você que nós discordamos em muita coisa. Eu não concordo com você em muitas das suas posições". A diferença do Sobral é que ele era extremamente corajoso. Rosa Cardoso, advogada. Os amigos de outras posições políticas que não eram... as dos governos militares se afastaram dele. Ele tinha consciência desses riscos e da solidão dele... mas ele nunca deixou de falar o que ele achava que era fundamental falar. Ele fez muitas cartas, como todos nós sabemos... denunciando as autoridades. Ele não foi um animal domesticado, jamais. A carta que ele faz ao ministro Armando Falcão... Marcelo Santa Cruz, irmão de Fernando Santa Cruz, desaparecido em 1974 é uma carta histórica, tendo em vista que... é muito contundente nas cobranças que ele faz... dando também conhecimento das providências que.. ele tinha tomado em relação ao sequestro e... desaparecimento de Fernando. "Excelentíssimo Sr. Ministro da Justiça, Dr. Armando Falcão, Vossa Excelência é Ministro da Justiça. Atente bem, Excelência, para esta posição: Ministro da Justiça". "Ponha, Sr. Ministro, a autoridade de seu alto cargo... ao serviço da manutenção eficiente e intacta da própria... legislação da assim chamada Revolução Brasileira". "3 de abril de 1974, Heráclito Sobral Pinto" Maria José, esposa de Sobral Dr. Sobral, a sua mulher, D. Maria José... faz 87 anos amanha junto com o senhor. O senhor é casado há 61 anos. Como é que o senhor vê o amor? Ah, eu vejo o amor como um sentimento que... aproxima os corações e faz com que esses corações... se compreendam e mutuamente se suportem. É indispensável que os dois tenham a noção de que... deve-se mutuamente ajudar... aguentar sobretudo nas horas amargas. Nós vivemos aqui um momento extremamente... delicado da vida do meu pai. Ele teve uma polêmica com Lutero Vargas. E o Lutero Vargas resolveu atacá-lo publicamente... invadindo a vida pessoal dele. E nesse dia, em julho de 1954, quando levantei de manhã... eu vi que tava um clima estranho dentro de casa. Ai meu irmão José Luis virou pra mim e disse: "Você viu o que saiu no jornal?" Eu disse: "Não". "Saiu no jornal que o papai teve um caso com uma mulher" Então eu me lembro assim que a sensação que eu tive... é que o mundo tava desabando. Meu pai! Não, não era possível! Já casado eu tive uma paixão, a que me levou a... desviar-me do meu dever de esposo católico, a razão pela qual… eu me demiti da Procuradoria Criminal da República. Eu achei que eu não tinha mais o direito de acusar ninguém... depois que eu tinha tido essa atitude. Nos idos de 1928, quando ele era Procurador Criminal da República… era o segundo posto mais importante do governo, que... uma mulher que ele tinha o maior respeito se apaixonou por ele... e ele se envolveu com essa mulher. Aí que eu fui saber porque que ele não ia aos... campos de futebol como eu falei... porque que ele não ia a cinema. Então ele disse nessa noite que ele não ia por uma autopunição. Porque ele achava que tendo traído o leito conjugal como ele traiu... que ele não tinha o direito de se divertir. Tem aqui um trechinho que ele diz: "Até ontem eu consegui manter os filhos na total... ignorância do meu pecado escandaloso de tantos anos atrás. Antes, porém, o novo escândalo, fruto da divulgação da carta do… Dr. Lutero Vargas, previ que não me seria mais possível preservá-los... contra o recebimento de tão grave notícia. Resolvi, por isso, reunir na noite de ontem toda a família para, ... com palavras discretas, contar tudo quanto se passou. Mostrei-lhes a grandeza da mãe que tinham e que se ostentava... no silêncio que guardara. Pois de então até hoje, nunca me disse uma palavra... a respeito da minha infidelidade. E quando terminei, os filhos com... os olhos cheios de lágrimas... Saltaram a um só tempo no meu pescoço... cobrindo-me de beijos e dizendo-me palavras como estas: Papai, cada vez mais temos orgulho de você. Só um homem de fibra poderia ter o procedimento que esta carta revela. A leitura desta carta aos seus filhos não é uma humilhação, ... é um ato de exaltação'.". Eu não sei, eu tinha só 17 anos... então eu não sei direito o que foi o que eu pensei, entendeu? Mas, eu sei que como naquele momento... o meu pai tinha ficado mais humano, sabe? Porque eu tinha o meu pai como uma coisa muito idealizada, ... uma coisa de uma perfeição que às vezes me tolhia... às vezes me fazia eu me sentir muito ruim... porque eu não tinha a inteligência que ele tinha, ... eu não tinha a cultura que ele tinha. Então naquele momento é como se o meu pai, dentro de uma... dignidade incrível, tivesse chegado mais perto de nós. Esse episódio que ocorreu com ele, de ter ficado com... uma outra pessoa durante o casamento com a vovó... Carlos Alberto Sobral Pinto, neto de Sobral Pinto parece que, durante toda a vida, isso ficou registrado nele... sem aquele feedback total dela... talvez da compreensão, alguma coisa nesse sentido. E coincidentemente, quando a vovó tava internada já… um pouco antes de falecer... Eu tava chegando no hospital assim e na porta do quarto eu dei de cara com ele. Naquele momento ele virou pra mim e falou assim: "Meu filho, sua avó me perdoou!" Acho que ele precisava, apesar de toda a dedicação... dela a ele, durante a vida toda, acho que ele precisava ouvir dela aquelas palavras de perdão. Juscelino queria indicá-lo para ser membro do STF. Ele rejeitou porque ele tinha apoiado o Juscelino... e achava que aquilo podia parecer uma espécie de privilégio. Ele era independente. Eu acho que talvez esse seja o maior valor que... se possa atribuir ao Sobral Pinto, é independência. Um homem independente, uma coisa muita rara de existir Os militares, pense, resolveram liquidar a candidatura do Juscelino. Então mandaram um ultimato ao Café Filho dizendo que... ele deveria liquidar a candidatura do Juscelino. Eu votava com a UDN. Os meus amigos todos estavam com a UDN, eram: ... Adauto, Carlos Lacerda, Dario de Almeida Magalhães. Carlos Lacerda me deu essa notícia E naquele instante eu disse, eu pulo pro lado de lá. Não pra defender a candidatura do Juscelino. Não para defender o PSD. Mas para defender um direito que o PSD tem... de escolher um candidato que ele quiser... sem ter a intervenção petulante dos militares. Neste instante eu vou defender o direito... do Juscelino ser candidato. Mas não vou votar nele, não sou partidário dele. E assim fiz. Então, o que aconteceu... Os amigos todos se retraíram e eu fiquei sozinho. Ele também pagou um preço por ser uma pessoa indobrável, ... por ser uma pessoa fiel inexoravelmente às suas convicções. Porque você desagrada muita gente sendo assim. Uma pessoa que não concede. Uma pessoa que nao doura a pílula. Então, evidentemente que se torna desagradável e... até perigoso pra muita gente. Que mal fazia o Sr. ter aceito o convite do Juscelino... pra assumir o Supremo? O mal é... Eu tinha feito uma afirmação categórica numa carta... de que eu não aceitaria nada do Juscelino. Mas por quê? Porque eles afirmaram que eu estava cansado de lutar... e então eu ia ter no governo do Juscelino uma... situação de grande relevo. Então eu achei que era de meu dever dizer: "Não senhor, eu intervim pra defender a Constituição... e a eleição do homem eleito, e não pra ter vantagem". Então, se temos escrita esta carta, esses seus jornalistas... podiam pegar a carta e esfregar na minha cara e dizer: Por que é que vale a sua palavra? Presidente da República Ao Congresso Nacional. Nesta data, e por este instrumento, deixando com... o Ministro da Justiça, as razões de meu ato... Jânio renuncia. São Paulo em marcha contra o comunismo. Em 1º de abril de 64, parte da manhã... veio o exército chegando, um carro de combate atrás do outro. E na medida em que chegaram, a praça cheia, o povo aplaudiu os tanques Os tanques nesse momento voltaram os canhões contra o povo. E atrás dos tanques foram saindo soldados com... fuzis de baioneta calada expulsando o povo da praça. Na medida em que isso começou a ser feito, ... o povo entendeu a virada e começou a vaiar. Na medida em que vaiava, os soldados avançavam com fuzis... e todo mundo entendeu que o golpe estava na rua. O Sr. Apoiou o Movimento de 64. Depois disso o Sr. passou a criticá-lo. O Sr. se arrependeu de ter apoiado o Movimento? Eu apoiei porque eu tinha certeza de que... os comunistas estavam dominando o governo. E se o governo continuasse, eles iam implantar aqui... um governo comunista ou sindicalista comunista. Acontece que quando eles tomaram o governo... era pra restaurar a Constituição que estava sendo... ferida e arrasada pelo governo João Goulart. Daí eu apoiar o Movimento. Mas, uma vez que os militares julgaram fora o João Goulart... eles passaram então a implantar a Ditadura Militar. Nesta hora então eu levantei: "Não, não é isto que eu quero!" E então aí passei a criticá-los Eis aí a razão! É porque eu fui favorável porque era... pra restaurar a Constituição. Como os militares, em vez de restaurar a Constituição, ... prosseguiram no caminho do desrespeito... então passei a criticá-los e até hoje estou criticando. Me lembro de um dia bastante conturbado... e uma noite mais ainda. Nós passamos a noite em claro... aguardando os acontecimentos e... Madalena Arraes, viúva de Miguel Arraes. imaginando o que a gente podia fazer no dia seguinte. E eu tinha que cuidar dos meninos, que eram muitos... e que tinham que ir pra escola, e levar uma vida normal. Então eu me preparei pra enfrentar esse dia normal. Voltei para o palácio. Então já estava tudo cercado, o exercito tomando conta de tudo. Nem queriam me deixar entrar, eu digo: "Mas eu vou entrar, eu moro aqui! Então eu vou entrar. E tenho que ver minhas coisas e tenho que cuidar da vida. Meu marido está ai"! E entrei. E comecei a ver como era a situação. Até que num dado momento ele foi levado. Ele saiu do Palácio e foi levado e eu não sabia pra onde. No dia seguinte pela manhã, pelo Repórter Esso, eu fiquei sabendo... que ele tinha sido levado pra Fernando de Noronha... Que estaria lá preso. Fui pro escritório. Chego no escritório ali junto da Cinelândia na Alvaro Alvin e encontro... já pessoas cujos pais, maridos e filhos tinham desaparecido. Eu tomei os dados de cada um e fui direto pro DOPS... porque eram prisões políticas evidentes. Dai a pouco chega o Sobral. O Sobral Pinto chegou com toda sua verve. E com toda sua glória não conseguiu entrar no DOPS. Atravessei rapidamente a rua na medida em que ele foi saindo. Desistiu de dialogar com os policiais do portão. E me apresentei, que eu o conhecia, mas ele não me conhecia. E a partir dai eu fui advogado de milhares de perseguidos políticos… E ele no escritório também era advogado de muita gente. A gente não tinha perspectiva, ele não sabia... quando ia voltar, quando ia sair. Essa situação não se resolvia... e nós passamos assim mais de um ano. Dentro dessa situação, o Dr. Sobral Pinto entrou... com pedido de habeas corpus e... Uma vez concedido o habeas corpus... ele pôde voltar de Fernando de Noronha e... retomou, vamos dizer assim, a vida aqui. Mas a tendência era prender ele de novo. Então, com essa perspectiva assim de uma coisa instável, ... periclitante, começou-se a pensar na saída do país. Então apareceu essa solução... De ir pra Argélia. E a gente foi. E lá ficamos vários anos. E até reuniar a família toda levou um tempo. Uns três ou quatro anos se não me falha a memória. O Sobral apoiou discretamente o Golpe de 64... por causa do problema comunista... Discretamente. Mas uma semana depois mandou uma carta duríssima... ao presidente Castelo Branco dizendo que ele não podia… ser presidente porque quando ele assumiu, ele era... chefe do Estado-Maior do Exército... e chefe do Estado-Maior do Exército sem voto... não pode assumir a presidência da República. Esse era o Sobral Pinto. O Sobral Pinto era um advogado conservador. Elinor Brito, ex-lider estudantil. Mas do ponto jurídico, do ponto de vista da sua ética, ... do ponto de vista político, ele era um visionário, um revolucionário... como toda a sua prática demonstra. Se ele foi ou não conservador, isso é secundário. O principal é que ele... teve e deixou isso como lição. A defesa da democracia, dos direitos individuais, ... dos direitos coletivos, direito de organização, de expressão... não tem ideologia. Sobral manteve uma coerência extraordinária... José Murilo de Carvalho, historiador. O que é muito dificil pras pessoas manterem, porque... inclusive as coisas mudam. E ele acabou se transformando, ele próprio, numa... certa instituição nacional. Tocar no Sobral Pinto era talvez mais complicado... do que fechar o Congresso. Poucas horas atrás o professor Sobral Pinto me contava... uma história muito interessante que o senhor pode agora... contar maiores detalhes pra gente. Ele me disse que em 64 o senhor conversava com ele... dizendo pra ele sobre a idéia do senhor de se exilar. Então ele disse ao senhor: "Olha, José, não se exile não... porque isso ai não dura mais que dois anos". E tava se queixando que esqueceu de colocar... um zero atrás do dois. Como é que foi essa história? O professor Sobral Pinto fez um protesto judicial... José Aparecido de Oliveira. contra a minha cassação. Este foi o único protesto judicial feito em 1964. Na época nós imprimimos dez mil exemplares... e deve ter sido a primeira manifestação pública... de resistência democrática ao golpe militar. Isso o senhor, certamente, se orgulha disso? Bom, não há motivo pra me orgulhar. A gente não se orgulha de que é cumprido o dever. Eu cumpri o dever de cidadão e de advogado. De cidadão porque era dever de todo o cidadão... protestar contra uma ditadura que se instalava. De advogado porque era um perseguido que precisava... de amparo, e era meu dever dar esse amparo. Houve aquele assassinato do estudante Edson Luis. O corpo foi velado na Câmara dos Vereadores. Aí, fizeram uma missa na Candelária... Pela alma do Edson Luis. E lá, exército, polícia, tentaram impedir a chegada do povo. Na medida em que começaram a sequestrar pessoas, ... sequestraram quatro jovens. Dois rapazes e duas moças. Dois irmãos, um chamado Rogério e o outro... Ronaldo Duarte. Eu ja tinha sido indiciado em vários IPMs... Rogério Duarte, artista gráfico, ex-preso político. desde de 1962. Ali até porque eu era da UNE. Mas nesse dia que me prenderam eu tava meio... achando que eu era apenas um garoto de ipanema, ... playboyzinho que fora injustamente preso. Eu vivia na praia ali jogando frescobol com aquela turma: Leila Diniz, o pessoal...os bacanas da esquerda, digamos. Então, a idéia de ser torturado era uma idéia... era uma coisa assim que podia acontecer com todo mundo. Mas, comigo? Estes dois foram sequestrados e levados pra um... departamento militar do subúrbio, lá na Vila Militar. Os advogados procurados pra defendê-los foram... o Sobral Pinto e eu. O Sobral Pinto era um advogado muito importante... Muito! Era o mais importante advogado do Brasil na época. Se não fosse a intervenção dele, a nossa questão... não teria tido a importância histórica que acabou tendo. Era a primeira vez que ocorria tortura denunciada... dentro de quartéis militares. Nós saímos sob juramento: "se abrir o bico, morre!" Eu fugi pro interior da Bahia. Virei cangaceiro. Dai eu pirei, enlouqueci. Quando eu voltei pro Rio, eu fui internado aqui no Engenho de Dentro. O Sobral Pinto, em ser o meu defensor... Para minha autoestima, saber que ele acreditava... em mim e na minha história, depois de eu ter passado... por um processo de desinformação sistemático que... a tortura fez, onde eu tinha perdido todas as autoreferências, ... onde eu tinha me esfrangalhado completamente... Na medida em que uma pessoa como ele me... me resgata como ser humano com direitos civis, ... aquilo é quase uma ressurreição, entende? Eu considero o desastre do Brasil... a Proclamação da Republica pelos militares. Os militares tendo proclamado a República, ... julgaram-se donos da República. E nunca aceitaram não serem os donos da República. Enquanto a presidência da República e os cargos... eminentes do país não voltarem para os civis, continuar... nas mãos dos militares, nós estaremos nesta situação... terrível em que nos encontramos, de falência e de corrupção. E discutir essa história com a sociedade... Rosa Cardoso, advogada. Voltar a discutir essa história que tinha ficado tão esquecida... vai favorecer que fique bem clara essa distinção entre... um regime ditatorial... Entre os prejuizos não só éticos, de violação de direitos humanos, mas políticos também. A análise desse legado autoritário e a discussão do que… permanece desse legado na nossa vida, na nossa sociedade. Naquele período, sobretudo o período de 21 anos, ... é claro que você deixou lacunas, não só num Congresso, ... Câmara do Deputados, Senado...castrado, cassado. Num Tribunal, uma justiça também castrada e cassada. Então você deixou uma lacuna ética, lacuna legal. Você deixou a lacuna inclusive do espaço vazio... daqueles que fariam política e não puderam fazer. O espaço vazio de um conhecimento que os meninos, os estudantes... de primeiro, segundo e terceiro grau não podiam ter. O ano de 68 pode ser dividido em duas partes. Até 13 de dezembro daquele ano, ano bissexto, alias, em que... ainda era possível...você tinha ditador, alias, já estava no… quarto ou quinto ditador, mas você tinha posssibilidade de manifestação, … tinha as passeatas, as assembléias... Era um momento de grande efervescência cultural e política até. Quando então chega esse famigerado Ato Institucional número 5... que cancelou todas as liberdades. Quer dizer, suspendeu habeas corpus, ... possibilidade de reunião, de expressão. Realmente baixou um manto de trevas no pais. Quando o AI5 proibiu o habeas corpus a preso político, … os advogados, incluindo Sobral, foram muito criativos... porque como as pessoas eram sequestradas, eles entravam com… habeas corpus, que se apelidou "habeas corpus de localização"... dizendo que como não existia ainda nem o auto de prisão… nem a acusação, não existia crime político, que poderia ser… configurado após o momento de se imputar o crime. E que se o AI5 proibia somente para crime político, ... até que fossem prestadas as informações da onde ele tava, o preso, ... e qual a acusação, que cabia ainda habeas corpus. E os juizes admitiam os habeas corpus, remetiam... oficio para diversos órgãos pedindo informações. E quando um órgão respondia dizendo que estava ali o preso, ... esse efetivamente se salvava da morte clandestina. No dia seguinte à edição do Ato Institucional numero 5, ... José Carlos Baleeiro, advogado. eu tava em Goiânia, na casa do Mauro Borges, ... ex-governador de estado. Surgiu então o filho dele, já à noite, dizendo: Papai, prenderam o Sobral Eu embarquei para Goiânia onde eu ia ser paraninfo... da turma de 70 bacharéis que colavam grau naquele dia. Foi ao hotel onde eu me encontrava o diretor da faculdade. Disse que ele tinha sido procurado de manhã pelo secretário de… segurança de Goiás: "Queria que o senhor indagasse do Sobral Pinto se ele vai fazer... algum comentário a respeito do Ato que foi ontem decretado." "Então, eu queria saber...". "Antes de responder eu quero do senhor… um compromisso de honra de que o que eu vou lhe dizer só ficará... entre mim e o senhor... Nem a sua senhora o senhor tem o direito de comunicar. Se o senhor me der a palavra de honra, eu dou a resposta. Se não, não dou resposta nenhuma." Então ele: "Não, eu dou a palavra de honra, o senhor tem a minha palavra". "Então, é evidente que eu não vou fazer nenhum comentário. Porque na hora em que eu fizer, eles apagam a luz e estragam a festa. Eu não sou nenhum insensato, de modo que esteja tranquilo." "Agora, o senhor vai dizer a ele que em hipótese nenhuma eu... concedo que alguém faça censura em discurso meu de paraninfo. Nem o senhor, nem ninguém." Às sete e meia eu estava de manga de camisa, ... em Goiânia é muito quente, um calor terrível, ... e de chinelo sem meia eu tava quando batem na porta. Entre! E ele então me disse: Eu sou o chefe de polícia da Policia Federal aqui de Goiás. Seu Major... Se eu não me engano, Major Clóvis. "Eu recebi ordem do presidente da República de transmitir ao senhor. E a ordem é que o senhor me deve acompanhar." "Meu amigo, o presidente da República é general, o senhor é major. Então ele pode dar ordem ao senhor, o senhor é militar." "Mas eu sou paisano... O presidente não me dá ordem nenhuma." "Muito menos uma ordem imbecil dessa! Eu não acompanho." "Então o senhor se retire! Não seja atrevido e se retire!" Nesta hora ele deu a esses homens ordem de prisão. Desses seis, quatro pularam sobre mim. "Então vamos!" "Eu não vou! O senhor me arraste, eu não vou!" "Não queremos quebrar o senhor!" "Pode quebrar, não tem importância, mas eu não vou!" Então me arrastaram. Ele: "o senhor se prepare que o senhor vai pra Brasília. De Goiânia até Brasília são três horas e meia, mais ou menos, ... de automóvel em boa estrada. No meio da viagem apareceu um automóvel lá atrás com... holofote de estrada, desse holofote forte, nos acompanhando. Então eu decidi voltar à Brasília, eu tava em Goiânia. Eu fui ultrapassado por um carro preto... Não me lembro se era um Aeroilis ou um Opala preto, sempre sem placa. E dentro do carro existiam cinco pessoas. O que estava no meio atrás, pela cabeça, pelo cabelinho branco, ... eu vi logo que era o Sobral. E... Resolvi, naquela coragem imprudente do jovem, ... Resolvi perseguir o carro. Pra saber onde é que iam enfiar o Sobral Pinto. Afinal de contas, naquela época não era incomum as pessoas... desaparecem por atos de agentes do governo militar. E eu comecei a perseguir o carro. Com meus faróis altos para que eles não soubessem... quem eu era ou em quantos nós eramos. Era só eu. O motorista fez um pretexto, um indício qualquer e parou o carro. Porque aquela luz, o holofote, estava preocupando. Quando eles pararam, o carro parou e os holofotes se apagaram. Eles ficaram ali uns minutos, viram que o carro não andava. Então resolveram continuar. E o carro acendeu e nos acompanhou até Brasília. E naquela noite, madrugada, eu comecei a acordar... os advogados que eu conhecia. Advogados amigos, gente que tinha o Sobral, como eu... também tinha, como ídolo. Formou-se aquela corrente. Interviemos decididamente para a soltura dele. Mesmo porque o coronel, comandante desse batalhão, ... não aguentava mais o Sobral. Ele fazia discurso para os outros presos. E os militares dizendo: Não, o senhor não pode falar contra o governo! Aí ele falava, e ele não tinha medo. Com aquela coragem dele, ele causou uma verdadeira... revolução dentro daquele batalhão. Entrevista com Sobral Pinto. 60 anos de resistência! Esse fato é relatado pelo Sobral nessa entrevista que… ele deu à "Pasquim" em 1977. Eu fui pra lá num sábado de madrugada. Na segunda-feira o coronel mandou nos avisar... que ele ia fazer um exposição sobre os direitos... dos militares governarem o país. E foi pra lá. Então ele começou dizendo que eles é que deviam... Porque eles eram patriotas, eram junto e conheciam realmente… o problema brasileiro... Que estudavam na Escola Superior de Guerra... E eram realmente honestos... Então começou essa exposição e aquilo foi me irritando. E eu então: "O senhor não sabe é nada! Essa Escola Superior de Guerra trabalha com apostilas. Eu conheço as apostilas. Se alguém vai estudar o problema do Brasil nessa apostila, ... tá perdido!" Quando ele disse: "Vamos fazer aqui uma democracia à brasileira." "Ai eu o interrompi", Sobral dizendo. "Tenha paciência. Não existe democracia brasileira. Existe é peru à brasileira. A democracia é universal. Esse é o título da reportagem dele à Pasquim. Sobral Pinto: "Não existe democracia à brasileira. O que esxiste é peru à brasileira." Qual foi a reação da sua senhora quando o senhor estava preso? Da Dona Maria. Ela disse que eu devia ta muito satisfeito... porque era isso que eu queria! Por volta de 1987, o jornalista Zuenir Ventura estava... preparando um livro sobre o ano de 1968. Surgiu então uma oportunidade meio casual... que foi a minha primeira entrevista importante. Que foi feita com Sobral Pinto sobre a prisão dele... em 1968 depois da decretação do AI5. Távamos aqui onde a gente tá, nesta casa... na sala, no sofá que ele gostava muito de ficar... ali com pijaminha, chinelinho E ele começou a contar o negócio do momento da prisão. O major disse a ele que então ele estava preso. E ele respondeu: Preso coisa nenhuma! Só que essa veemência aconteceu em 1968... e aconteceu também 20 anos depois, ... quando ele estava falando comigo. E se ele tinha sido preso aos 75 anos e já tinha sido bravo, ... aos 95 ele continuava bravo, indignado. E com a mesma indignação ele disse isso... com tanta veemência que ele acabou dando um chute... no ar e o chinelo dele voôu e passou por cima de mim. Uma reação assim completamente suficiente pra eu olhar... e falar assim: "Eu to diante de um homem bravo!" "Se naquele ano fosse instituido um prêmio de... bravura física e cívica, os milhares de estudantes que... enfrentaram a polícia nas ruas iam ter um sério concorrente... na pessoa desse jovem insubordinado chamado... Heráclito Fontoura Sobral Pinto." O que faz uma pessoa ter uma reação tão intensa... 20 anos depois do fato que ela tá narrando? Tão intensa, tão indignada, tão extraordinariamente indignada. É porque algo muito extraordinário move essa pessoa. Algo muito especial move esse homem. Aí eu entendi que é a fé dele. A fé do Sobral Pinto é algo que é... é muito maior do que a fé religiosa do Sobral Pinto. A fé religiosa do Sobral Pinto é um pedaço apenas... da fé do homem Sobral Pinto. Sobral Pinto era um homem de fé... na vida, na verdade das coisas. Um homem de fé na virtude, no que é certo. Qual é a importância da fé na sua vida? A fé é tudo! Tudo na minha vida decorre da fé. Tudo aquilo que a fé diz que eu devo fazer, ... eu procuro fazer. Não faço! Eu seria santo! Mas se eu conseguisse realizar tudo aquilo... que a fé manda, eu seria santo. E eu tô longe de ser santo, muito longe. A consciência me acusa terrivelmente. Mas ela me impede de fazer uma porção de coisas. É que as tentações são permanentes, são constantes. Um homem como eu tem tentações de toda espécie. Desde as mulheres até os negocistas. O senhor diria que vem da sua fé essa... sua força incrível de lutar pela justiça? Exclusivamente da minha fé! A energia que eu tenho, a coragem que eu tenho, ... a disposição que eu tenho. Todas as manifestações que saem do meu ser, ... saem da minha cabeça, saem das minhas palavras. Tudo isto é consequência direta da minha fé. O Sobral Pinto era um homem de espírito público. Espírito público é você transformar os valores civilizatórios... em valores pessoais, tá certo? Por quê o Sobral Pinto foi um homem que... por exemplo, abriu mão de enriquecer? Poderia ter enriquecido com seu trabalho. Por quê o Sobral Pinto nunca fez concessões? Eu não sei, mas não tenho notícia das conversas familiares... de que ele fosse no final da vida um homem arrependido por não ter mais meios, ... por não viver mais confortavelmente. Não há nenhum sinal de ressaca, de arrependimento e tal, por quê? Porque ele tava milhonário no seu íntimo, tá certo? Cade vez que ele obedecia a convicção dele, ... ele ganhava um milhão. A certa altura da vida, Sobral Pinto começou... a ser comparado com Dom Quixote. Ganhou até troféu com a imagem do personagem. Bom, ele era um bravo romântico, com certeza. Mas me incomoda um pouco essa analogia. As pessoas achavam tão extraordinário um homem de... coragem e princípios, que parecia fábula. Mas Sobral foi um homem real. E tudo que já foi real, continua sendo possível. O senhor gostaria de dar alguma mensagem... pros jovens, pro brasileiro de um modo geral? Pois não. Eu acho que eu sou talvez uma das poucas pessoas... que tem para os jovens uma verdadeira mensagem, ... que é a seguinte: Eu conheci um mundo organizado juridicamente. Após a primeira guerra mundial, tudo isso se alterou. A violência entrou no mundo. Um mundo onde o direito não mais funcionava, ... onde não havia mais nenhum respeito pela lei. O que mandava era a força. Então os moços de hoje estão neste clima. Eles acham que a força, que a violência é que comandam. Não! Isto é uma "transição". Uma transição funesta, perigosa. Eles devem lutar para que se volte àquela concepção... anterior à primeira guerra mundial, em que o direito... é que realmente geria e governava a atividade do homem... na vida privada, na vida pública, nas empresas, em toda parte. O direito era uma realidade. Ninguém ousava desrespeitá-lo. Então, esta é a mensagem! Eu conheci este mundo. Se ele existiu, ele pode voltar a existir. Então é ai que eu digo aos moços: Trabalhem, não com violência, trabalhem através... da palavra, do raciocínio, do argumento, no sentido... de convencer a todos que devem realmente organizar... seu país dentro de uma organização jurídica perfeita, ... em que os três poderes funcionem livremente, respeitando-se mutuamente. Esta é a mensagem que eu dou aos moços de hoje. Sobral Pinto deve ter deixado alguns herdeiros, que nada morre. Então aproveito a oportunidade, porque se aparecer... algum descendente espiritual de Sobral Pinto, ... que apareça! Porque nós estamos precisando, e muito, de gente como ele. É o que eu podia dizer. Direção, Paulo Fiuza. Produzido por Augusto Casé. Aqui no lançamento do disco do João Nogueira, ... uma figura singular, a do jurista Sobral Pinto. Dr. Sobral, como o senhor tá se sentindo como... tema de uma música que vai ser tão popular... e o povo todo vai cantar: "Vovô Sobral"? Eu me sinto preocupado, porque a múscia é tão bela, ... ela é tão atraente, que o povo vai querer ouví-la. E ouvindo-a, vai encontrar nela conceitos que me atribuem... qualidades e virtudes que eu não possuo. Bom, eu participando do comissio pelas eleições diretas... na Cinelândia tive a grande emoção de ouvir o Dr. Sobral Pinto... pronunciar o primeiro artigo da Constituição. E eu confesso, como um homem já dos quarenta anos, ... não sabia o primeiro artigo da Constituição brasileira, que... eu acho que todo brasileiro deveria saber desde os quatro anos. E me emocionou muito ver a figura dele levantar... aquela multidão, falando coisas que o povo brasileiro... precisava saber e precisa saber. O senhor também, no teatro, tá sendo homenageado... com o texto do Millôr Fernandes: "Ajude o Dr. Sobral a combater o mal". Como é que o senhor se sente? O senhor tá sendo meio uma musa do verão de 85? Minha filha, eu não sei o que dizer. Eu não sei como explicar todas essas homenagens. "O vovô Sobral falou que o voto direto é o anseio do trabalhador Que esse é um direito que exige cada cidadão A escolha do novo chefe da nação E o vovô Sobral falou que o bravo soldado vai ver o seu real valor Agindo pelo bem do povo em sua proteção assim como reza a Constituição Vovô Sobral Pra quem não conhece é um grande homem Tornou-se jurista de renome Patrono de todo tribunal Vovô Sobral Do alto dos seus 90 anos Reclama por direitos humanos Nas praças de cada capital Pagou geral Ele hoje é a razão que guia o povo Pois sendo o mais velho Hoje é o mais novo Herói da justiça nacional Como eu gosto do vovô Sobral!"